Emissões evitadas: o Escopo 4 como nova fronteira na Governança Climática  

Nos últimos anos, o debate sobre sustentabilidade e responsabilidade ambiental ganhou força no setor empresarial. Empresas que atuam em segmentos com alta intensidade de carbono estão sendo cada vez mais cobradas por investidores, reguladores e pela sociedade para demonstrar ações concretas rumo à descarbonização. 

Tradicionalmente, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) são classificadas em três escopos. Mas há um novo conceito ganhando espaço, o Escopo 4, também conhecido como emissões evitadas. O termo representa os impactos positivos gerados pelo uso de produtos ou serviços que ajudam a reduzir emissões em outros setores ou contextos. 

Por que o Escopo 4 é importante?

Embora ainda não seja oficialmente reconhecido por padrões como o GHG Protocol, o Escopo 4 vem sendo discutido por instituições como o World Resources Institute (WRI), o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e a Net Zero Initiative (NZI). A ideia é simples, se uma empresa oferece uma solução que ajuda outros setores a emitir menos carbono, isso deve ser valorizado. 

Três abordagens principais têm sido utilizadas: a WRI (2019) propõe duas formas de cálculo, uma mais simples (comparando produtos similares) e outra mais abrangente (considerando impactos sistêmicos). A abordagem de WBCSD & NZI (2023) traz critérios claros para declarar emissões evitadas, como alinhamento com metas climáticas e impacto real na descarbonização. Por fim, a Avoided Emissions Framework – AEF (2020) foca em inovação tecnológica e planejamento estratégico, considerando cenários futuros e mudanças comportamentais. Todas essas metodologias reforçam a importância de transparência, precisão e rastreabilidade nos dados reportados. 

O que isso significa para as empresas? 

Adotar práticas de mensuração do Escopo 4 pode trazer diversos benefícios, como: o fortalecimento da governança climática; maior atratividade para investidores ESG; posicionamento estratégico frente às novas exigências regulatórias; além da contribuição efetiva para a agenda de neutralidade climática. 

Apesar das vantagens, é essencial estar atento aos riscos e limitações associados à essa mensuração. São eles: 

  1. Falta de padronização: não há uma metodologia oficial consolidada, o que pode gerar inconsistências e dificultar a comparação entre empresas. 
  1. Risco de dupla contagem: em soluções colaborativas, mais de uma empresa pode alegar as mesmas emissões evitadas, comprometendo a integridade dos dados. 
  1. Greenwashing: sem critérios claros, há o risco de alegações exageradas ou infundadas, que podem prejudicar a reputação da empresa. 
  1. Complexidade metodológica: abordagens mais robustas exigem dados detalhados, análises de ciclo de vida e consideração de efeitos indiretos, como o efeito rebote. 
  1. Inventário básico como pré-requisito: antes de reportar Escopo 4, é fundamental que os inventários de Escopos 1, 2 e 3 estejam completos e auditados. 

O Escopo 4 abre novas possibilidades para empresas que realmente contribuem para a descarbonização global. No entanto, seu uso exige responsabilidade, rigor técnico e compromisso com a integridade dos dados. Ao adotar essa abordagem com cautela e transparência, as empresas podem fortalecer sua posição na transição energética e responder às novas exigências do mercado e da sociedade. 

Ciente da importância e complexidade envolvidas, a WayCarbon está acompanhando de perto as discussões técnicas e regulatórias sobre o Escopo 4, com o objetivo de orientar seus clientes na adoção de práticas responsáveis, transparentes e alinhadas às melhores metodologias disponíveis. Ao apoiar essa jornada com rigor técnico e compromisso com a integridade dos dados, reforçamos nosso papel como parceiro estratégico na construção de soluções sustentáveis e na promoção de uma economia de baixo carbono. 

Flávia Tostes
Consultora de Sustentabilidade at WayCarbon |  + posts
Lucas Buzatto
Analista de Sustentabilidade at WayCarbon |  + posts
Lucilia Fernandes
Analista de Sustentabilidade at WayCarbon |  + posts

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