Estudo inédito analisa a demanda por créditos de carbono no Brasil

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O Brasil reúne condições únicas para se tornar um dos protagonistas da economia de baixo carbono. Essa é uma das conclusões do estudo “Oportunidades para o Brasil em Mercados de Carbono”, elaborado pela ICC Brasil, em parceria com a WayCarbon e patrocínio de Braskem, Cielo, Bayer, Itaú, SAP e Shell. Lançado no dia 13 de novembro, na Blue Zone da COP30, o documento analisa possibilidades dos segmentos do mercado de carbono, com foco no potencial nacional de oferta e de demanda para créditos de carbono. O documento detalha as oportunidades para o país nos três ambientes de mercados de carbono, a partir de uma visão de vetores da demanda: os mecanismos do Artigo 6 do Acordo de Paris, o Mercado Voluntário e o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).

O estudo destaca que o país já é um dos maiores emissores de créditos de carbono no mercado voluntário, com 148 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes geradas. Mais ainda, em um cenário de cooperação internacional para redução do aquecimento global, se o Brasil destravar o seu potencial de descarbonização para além da sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), teria o potencial de ser líder na venda de resultados de mitigação transferidos internacionalmente (ITMOs), correspondendo por cerca de 33% da demanda global – no âmbito do Artigo 6 do Acordo de Paris, mecanismo que regula o comércio global de créditos entre países.

Outro ponto do estudo indica ainda que a regulamentação do SBCE representa um marco decisivo para a consolidação desse mercado de créditos. Segundo o levantamento, a partir de 2030 o SBCE pode se tornar o maior vetor de demanda nos mercados de carbono nacionais e pode crescer até 530%, passando de 13,5 milhões em 2024 para cerca de 85 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes geradas, em um cenário em que se aceite 20% de créditos de carbono (Certificados de Redução ou Remoção Verificada de Emissões – CRVEs – como são chamados os créditos aceitos no SBCE) para a conciliação das obrigações do SBCE. E, a partir de 2050, o alcance do net-zero global se torna o fator de maior influência para a demanda nos mercados de carbono. No longo prazo, a principal oportunidade para o mercado brasileiro estaria relacionada ao pleno funcionamento do Acordo de Paris.

“Os mercados de carbono são mecanismos de transição importantes e podem impulsionar um novo modelo de competitividade global. Precisamos de um ambiente de negócios favorável e de segurança jurídica para transformar o potencial natural do Brasil em valor estratégico e protagonismo internacional. A economia de baixo carbono não deve ser vista como uma tendência futura, ela pode ser o pilar da economia do presente”, destaca Gabriella Dorlhiac, diretora-executiva do ICC Brasil.

O relatório também aponta que os setores de Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra e de Energia são responsáveis pelo maior volume de créditos gerados e aposentados no Brasil, no âmbito do mercado voluntário. Já os setores mais comuns dos beneficiários dos créditos de carbono brasileiros são os de Logística (24%), petróleo e gás (20%) e Bens e serviços de consumo (15%).

“A Braskem acredita que a indústria pode ser parte da solução para o enfrentamento da mudança climática e apoia iniciativas que promovem o desenvolvimento sustentável. Há mais de dez anos, a companhia defende a importância da precificação de carbono como estratégia para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. E é essencial existirem estudos que gerem conhecimento e, em parceria com a indústria, possibilitem a construção de políticas públicas que incentivem a inovação tecnológica e garantam a competitividade em uma transição justa e inclusiva”, afirma Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem.

Desafios futuros

Entre os desafios para consolidar essa liderança, persistem aqueles especialmente do lado da demanda e na estrutura dos mercados. No caso do Artigo 6 do Acordo de Paris, por exemplo, estão a infraestrutura fragmentada e a maior clareza quanto ao processo de autorização de vendas de créditos com ajustes correspondentes. Para o mercado voluntário, ainda há metodologias complexas e incerteza em relação à demanda futura. A falta de padronização dos créditos e a qualidade inconsistente também surgem como desafios a serem superados.

Para o SBCE, o risco de uma regulamentação tardia pode diminuir a janela de oportunidades desse mercado. Ainda há a necessidade de se avançar em definições quanto a uma infraestrutura robusta de transparência e supervisão técnicas, além da possível interoperabilidade de créditos entre setores regulados e não-regulados.

“O mercado, e seus agentes, buscam transparência, convergência contábil e segurança regulatória. O momento que vivemos é de ajustes no mercado voluntário e de implementação do SBCE e dos mecanismos do Artigo 6. Ao endereçar elementos prioritários que criam hoje incertezas esperamos observar um fortalecimento da demanda e uma retomada dos preços do carbono para patamares que, de fato, criem incentivos para investimentos em escala para projetos de descarbonização”, afirma Henrique Pereira, COO da WayCarbon.

“As oportunidades do mercado de carbono evidenciam o desafio de garantir uma transição climática justa no Brasil. O envolvimento do setor varejista é essencial nesse processo. A Cielo tem atuado como parceira estratégica, impulsionando negócios inclusivos e sustentáveis. Na COP30, reforçamos nosso compromisso com a neutralização de emissões e o desenvolvimento sustentável. O estudo da ICC Brasil é um marco importante, pois mostra que o Brasil tem potencial para assumir protagonismo na economia de baixo carbono, desde que avance em regulamentações e infraestrutura tenha a sua integridade e o desenvolvimento socioeconômico como seus objetivos”, afirma Daniel Poli, Gerente Executivo de Sustentabilidade e Impacto da Cielo.

Ao alinhar conservação ambiental, inovação e rentabilidade, o Brasil pode se posicionar como o grande hub da nova economia verde global, de modo a conectar crescimento econômico e sustentabilidade em uma mesma agenda. O desafio é consolidar mercados de carbono confiáveis, de alta integridade e capazes de gerar prosperidade com impacto positivo.

Leia o estudo completo:

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