I-REC: quais os benefícios dos certificados de energia renovável?
Atualizado em: 28/03/19
Com a mudança do clima cada vez mais evidente, medidas de mitigação das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) se tornam essenciais e urgentes. Sabemos que as energias renováveis podem ser grandes aliadas nesse sentido, uma vez que são obtidas por meio de recursos naturais capazes de serem repostos pela natureza e, por isso, são consideradas energias limpas.
O International REC Standard (I-REC) é um sistema global que possibilita o comércio de certificados de energia renovável. Por meio da sua plataforma, empresas podem garantir que a energia que consomem seja proveniente de fontes renováveis e, portanto, limpa. Neste texto explicaremos como o sistema funciona e quais são seus benefícios para os geradores de energia e as empresas com substancial consumo de eletricidade. Vamos lá?
O que é o I-REC?
Algumas empresas investem em uma usina própria para gerar energia renovável. Outras, por meio de políticas de compras sustentáveis, dão preferência às fontes renováveis em compras de energia no mercado livre. Contudo, mesmo que essas empresas produzam ou comprem energia limpa, normalmente utilizam o grid do Sistema Interligado Nacional (SIN) para a sua transmissão.
O fator de emissão de gases de efeito estufa (GEE) do Grid é publicado pelo MCTIC com todas as fontes conectadas a ele. Por isso, mesmo que a empresa produza ou compre energia limpa, essa ação não pode ser tangibilizada em termos de redução de emissão, já que, até então, todos tinham que utilizar o fator de emissão do Grid.
Agora, por meio do International REC Standard (I-REC), sistema global de rastreamento de atributos ambientais de energia, os consumidores de eletricidade podem comprovar a rastreabilidade da energia renovável. Mas como funciona esse processo?
Conforme já mencionado, toda a energia produzida, de fontes renováveis ou não, é injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN), chamado Grid, e viaja por uma rede de transmissão até o local em que ela será consumida. Dessa forma, ao receber a energia da rede local é impossível rastrear fisicamente a sua fonte. Porém, é possível adquirir os Certificados de Energia Renovável (RECs, em inglês) na mesma quantidade da energia consumida, comprovando, assim, a sua origem renovável.
Cada REC representa uma unidade de geração de energia renovável. 1 REC = 1 megawatt hora, o que equivale a 1000 kilowatts hora de energia renovável injetada no sistema elétrico renovável.
Qualquer usina de energia renovável pode começar a emitir e comercializar os certificados após se registrar no I-REC. Vamos saber mais sobre o processo de registro?
Como obter a certificação?
Para garantir que os RECs emitidos no Brasil sigam os mesmos padrões dos RECs de outros países, o Programa Certificação de Energia Renovável no Brasil também utiliza, desde 2017, a plataforma internacional I-REC.
Para ganhar o direito de transacionar os certificados, a empresa que deseja se tornar emissora precisa passar por um ciclo de certificação antes de aderir ao código I-REC. Inicialmente, a empresa deve apresentar informações detalhadas sobre o seu empreendimento e passar por uma auditoria documental pelo emissor local. No Brasil, o emissor local é o Instituto Totum.
Durante o processo, são verificados 5 pontos básicos sobre a produção da energia na usina:
- A fonte de energia é renovável?
- A energia é legalmente instalada?
- A energia é interligada no Grid de sistema nacional de energia?
- Inexiste duplo beneficiário do REC (sem contagem dupla)?
- Há características adicionais de sustentabilidade?
Uma organização que atenda aos quatro primeiros critérios já pode ser registrada na plataforma International Rec Standard (I-REC). Caso a usina atenda a esses critérios, e ainda possua características adicionais em termos de sustentabilidade, os RECs comercializados por ela podem receber um selo de sustentabilidade adicional: o REC Brasil.
Também é possível obter a certificação em nível internacional GoldPower, que é similar ao REC Brasil, sendo limitada a projetos que possuem critérios adicionais de sustentabilidade. Tais certificados do tipo «premium» possuem maior valor de venda que o I-REC tradicional.
Com todos os documentos avaliados e aceitos pela auditoria, a empresa pode começar a emitir, vender e transferir os RECs para os compradores por meio da plataforma I-REC, em que estarão registradas na condição de Participante. Ressalta-se que os RECs podem ser cancelados em nome de um único consumidor. Isso significa que uma vez que um certificado é locado para uma empresa, ele sai do estoque, se tornando indisponível. A partir desse certificado, o consumidor pode fazer um documento confiável e transparente que comprove a compra da energia renovável.
Quais benefícios os RECs podem trazer para a sua empresa?
Sabemos que a mudança do clima preocupa tanto as empresas quanto os consumidores. Por isso, ao longo dos anos, a responsabilidade socioambiental vem se tornando um importante elemento para a imagem das empresas. Assim, usar energias renováveis é, além de uma forma de contribuir para a redução das emissões de GEE na atmosfera, uma maneira de agregar valor ao seu produto ou serviço.
Para os emitentes do certificado, o registro no I-REC é uma forma de obter uma receita adicional. Essa receita é um incentivo direto para que o produtor continue investindo em geração de energia renovável.
Já para quem adquire os RECs, os benefícios são outros. O principal deles é a comprovação da origem da eletricidade consumida e a correspondente redução de emissão de gases de efeito estufa. A RE100, por exemplo, é uma iniciativa global que reúne mais de 100 organizações influentes em torno de um objetivo comum: tornar 100% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis. Entre essas empresas estão a Adobe, a Microsoft e o Facebook. Uma das estratégias para comprovar a origem da energia é justamente o uso dos certificados de energia renovável.
Há também mercados que só aceitam esse tipo de crédito, como o mercado de projetos que buscam a certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), voltada a para a construção de prédios verdes. Um dos requisitos para ter essa certificação é gerar ou consumir energia renovável e comprovar a sua produção ou o uso, o que pode ser feito por meio dos RECs.
A certificação I-REC é o meio mais prático e confiável de comprovar a origem da sua energia e de evidenciar os seus investimentos em sustentabilidade. Dessa forma, os RECs trazem o reconhecimento a quem consome energia limpa e apoia o desenvolvimento de mais energia renovável. Além disso, os certificados viabilizam o cumprimento de metas de sustentabilidade de muitas organizações.
Outra vantagem ao obter os certificados de energia renovável é que, a partir do ciclo de 2018, eles poderão ser utilizados para o reporte das emissões de escopo 2 (emissões indiretas pelo consumo de energia) no Programa Brasileiro GHG Protocol. Agora, para a verificação das informações relatadas no Escopo 2 podem ser utilizadas a abordagem baseada na localização (relato obrigatório) e a abordagem baseada na escolha de compra de energia (relato adicional e opcional).
Isso significa que as organizações que desejam incluir em seus inventários as informações sobre a compra de energia renovável podem apresentar seus RECs no processo de verificação, subtraindo a quantia de energia renovável referente aos RECs adquiridos da quantidade total de energia elétrica adquirida no grid.
Para saber mais sobre a nova abordagem disponível clique aqui.
Então, além de comprovar a redução de suas emissões de GEE para a sociedade, a organização que obtém os RECs ainda consegue uma melhora de seus indicadores para programas de reporte como o Carbon Disclosure Program (CDP), o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Down Jones Sustainability Index (DJSI).
Qual a importância dos RECs no mercado?
O mercado dos RECs tem crescido bastante no Brasil. Em 2018, houve um aumento significativo da demanda pelos certificados no país, com a negociação de 1,3 milhões de RECs, quantia quase 5 vezes maior que a de 2017. Mas os números não param por aí: nos primeiros 3 meses de 2019, o Brasil já emitiu mais de meio milhão de I-RECs. Se tornando o segundo maior emissor do mundo.
Com o crescimento da demanda, a oferta de energia renovável certificada também está aumentando. A oferta dos RECs, que até o final de 2017 vinha somente de três empreendimentos, agora vem de 87 empreendimentos capazes de gerar os certificados.
Apesar disso, o Brasil ainda possui o desafio de dar vazão aos RECs emitidos no mercado nacional. A demanda é pequena em comparação com a oferta e em relação ao mercado mundial, por isso é importante que as empresas também olhem para os mercados de fora, se atentando a questões de localização e limites geográficos.
Apesar dos desafios enfrentados pelo mercado nacional de certificados de energias renováveis, o crescimento vivenciado nos últimos anos beneficia tanto geradores quanto consumidores desse tipo de energia. Mas, além desses benefícios, a certificação incentiva o uso e a produção de energia renovável no país, colaborando com o combate à mudança do clima