Maturidade no tema e parcerias estratégicas podem facilitar no processo de definição e reconhecimento das metas.
Estamos em um momento em que as empresas estão aderindo rapidamente ao conceito de Net Zero. O tema foi estabelecido inicialmente no Acordo de Paris para uma agenda de países, mas posteriormente incorporado ao mundo dos negócios pela percepção geral da importância de combater as mudanças climáticas para a própria existência das corporações. Reflexo disso é um aumento na avaliação dos riscos climáticos a que estão expostas pensando na resiliência das companhias. Em relatório de 2021 da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) sobre a adoção das recomendações seguindo o seu framework, foi apontado que 1.650 empresas já fizeram a avaliação de seus riscos e oportunidades em relação às mudanças climáticas. Em 2020, foram 1500.
Outros atores também estão entendendo os seus papéis nessa agenda, como o crescente número de investidores (fundos de investimento, hedge funds, private equity e fundações) que buscam investir exclusivamente em negócios com impactos ambiental e social positivos, fomentando essa transição das empresas para um mundo menos intensivo em carbono.
O que é o SBTi?
Para atingir a ambição de se tornar Net Zero, uma empresa precisa garantir a eliminação de emissões de gases de efeito estufa (GEE) não somente de seu negócio especificamente, mas também considerar as emissões indiretas por toda a cadeia de valor em que está inserida, incluindo seus fornecedores e clientes, o que torna o objetivo muito mais desafiador.
Como forma de guiar as empresas nesse desafio, iniciativas foram criadas com o intuito de assegurar que essas metas sejam suficientemente audaciosas e ao mesmo tempo «atingíveis» dentro do prazo estabelecido. Umas das iniciativas para estabelecimento e reconhecimento das metas é o Science Based Targets Initiative (SBTi).
Essa iniciativa atesta que as metas sejam baseadas na mais atual ciência climática e tenham a ambição necessária para o atingimento dos objetivos do Acordo de Paris, limitando o aquecimento global abaixo de 2°C e se esforçando para limitá-lo a 1,5°C. O primeiro passo para estabelecer uma meta pela SBTi é submeter uma carta compromisso. Esse é um momento de exposição ao público, pois as empresas comprometidas são reconhecidas no site da iniciativa. A partir desse compromisso, as empresas têm dois anos para desenvolverem uma meta e, finalmente, submetê-la ao SBTi para validação.
A recente publicação de um relatório pela New Climate Institute em parceria com a Carbon Market Watch avaliou a transparência e integridade em relação as metas de neutralidade de carbono de 25 empresas pelo mundo. A conclusão foi que a maioria não trouxe evidências suficientes de que conseguiria alcançar essas metas ou dependerão de forma excessiva dos créditos de carbono ao invés de promoverem a redução na própria cadeia. Porém, observa-se que desse montante, 24 empresas ainda estão no estágio inicial de comprometimento, e apenas uma já tem as metas estabelecidas.
O que observar antes de submeter uma meta para avaliação do SBTi?
Por isso, é importante que a empresa, ao se comprometer com a iniciativa, tenha maturidade no tema, realize regularmente a contabilização das emissões de GEE (seguindo diretrizes internacionalmente reconhecidas, como o GHG Protocol), incorpore sistemas de gestão de emissões, e, de preferência, já tenha um roadmap desenvolvido para a descarbonização e neutralidade. Todo esse caminho a ser percorrido pode levar tempo, dependendo do tamanho e da complexidade do negócio, mas é necessário para embasar de forma robusta a definição de uma meta e mostrar progresso no seu atingimento.
Apesar do relatório da New Climate Institute e Carbon Market Watch trazer críticas à iniciativa, ele deve ser visto com bons olhos, assim como foi pela própria SBTi que declarou em nota compreender que essa cobrança por parte de outros atores (como agências reguladoras, ONGs e outras instituições da sociedade civil) faz parte do processo. Trata-se de um momento em que todos estão amadurecendo, inclusive a própria SBTi, com lançamentos de novas diretrizes e pré-requisitos específicos para diferentes setores periodicamente.
A WayCarbon tem especialistas que podem ajudar as empresas no processo de submissão de metas ao SBTi, auxiliando nas etapas de levantamento das emissões, alinhamento com diretrizes específicas de cada setor, identificação de projetos de redução, definição das metas e estabelecimento da estratégia de redução. Entre em contato.
Notas:
Net Zero: para se tornar Net Zero, uma instituição precisa garantir a eliminação de emissões não somente de seu negócio especificamente (englobando o uso de eletricidade, calor e vapor), mas também considerar as emissões indiretas por toda a cadeia de valor em que está inserida, incluindo-se fornecedores e clientes, o que torna o objetivo muito mais desafiador.
TCFD: A Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) foi criada para desenvolver recomendações para uma divulgação mais eficaz relacionadas ao clima que possam promover decisões de investimento, crédito e subscrição de seguros mais bem embasadas e, por sua vez, permitir que as partes interessadas entendam melhor as concentrações de ativos relacionados ao carbono no setor financeiro e as exposições do sistema financeiro a riscos relacionados ao clima.