Chuvas, eventos climáticos extremos e a necessidade de adaptação

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Com o avanço da mudança do clima, já percebemos algumas de suas consequências pelo mundo, inclusive nas cidades brasileiras. Chuvas intensas, como as que ocorreram no Rio de Janeiro e Brasília no mês de abril e em São Paulo em março acompanhadas de danos à infraestrutura urbana e risco à segurança, vêm se tornando cada vez mais comuns. E, caso medidas de adaptação aos eventos climáticos não sejam integradas aos planos de governo municipais, a população será afetada de várias formas.

Cada localidade irá responder de modo diferente às alterações climáticas. O nível de prejuízos gerados dependerá do grau de adaptação e resiliência da infraestrutura urbana, bem como da rapidez de tomada de decisão pelos governos. Mas, sabia que é possível gerenciar essas consequências por meio da análise de vulnerabilidade climática e de um Plano de Adaptação?

Continue acompanhando o texto abaixo para entender como isso pode ser feito. 

Eventos climáticos: a maior chuva em 22 anos no Rio de Janeiro

Nas últimas semanas, acompanhamos os desdobramentos trágicos de um temporal no Rio de Janeiro. Segundo o sistema Alerta Rio, da Prefeitura da cidade, a chuva que ocorreu entre o fim da tarde do dia 8 de abril e o início da manhã do dia 9 foi a mais intensa em 22 anos. Em apenas 4 horas de chuva, a precipitação foi superior ao dobro da média para o mês de abril na Zona Sul e no Jardim Botânico. 

Em 24 horas, a precipitação média foi de quase 190 mm. A situação foi ainda pior na Rocinha, onde foram registrados 343,4 mm, e na Barra da Tijuca, com 335,2 mm.

Vários pontos da cidade ficaram alagados. Em alguns deles, a única forma de circular era por meio de barcos. Carros foram submersos, casas foram inundadas e um trecho da ciclovia Tim Maia caiu, sendo esse o quarto desabamento desde 2016. Nessa situação caótica, dez pessoas morreram. As aulas tiveram que ser canceladas e a prefeitura acendeu o alerta de crise para nível 3, que é o máximo.

O climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), chama a atenção para a tendência de aumento das médias de temperatura no Brasil. No Rio de Janeiro, a temperatura média já está entre 1,5ºC e 2ºC mais quente que 100 anos atrás. O pesquisador Fábio Polifke, do Centro de Operações do Rio, aponta que já é percebido o aumento da ocorrência de eventos extremos na cidade do Rio de Janeiro. E as chuvas fortes serão cada vez mais frequentes nas próximas décadas!

Além das precipitações intensas, as ondas de calor também se tornarão mais comuns, como mostrado em estudo de pesquisadores da Monash University. Caso não sejam traçadas estratégias para lidar com esses eventos, as mortes causadas pelo calor extremo aumentarão, sendo Colômbia, Filipinas e Brasil os países mais afetados nas próximas décadas. A população mais pobre, além de idosos e crianças são os mais vulneráveis.

No mês de março, a cidade de São Paulo também foi afetada por um evento extremo, quando 13 pessoas morreram em decorrência de temporais. A série histórica da cidade mostra que as tempestades têm sido mais frequentes e intensas ao longo das últimas décadas.

E, ainda neste fim de semana, fortes chuvas atingiram o Distrito Federal, com destaque para a cidade de Brasília. Rodovias foram alagadas e fechadas, salas da Universidade Federal de Brasília (UnB) tiveram de ser interditadas devido a alagamento, árvores foram derrubadas e o aeroporto internacional da capital ficou fechado por cerca de 20 minutos para pousos e decolagens. Segundo o Instituto Nacional de Meterologia (Inmet), a média histórica de chuvas em Brasília é de 133,4 milímetros. Porém, em uma semana, o acumulado do mês chegou a 292 milímetros, ou seja 119,5% a mais do que o esperado.

Portanto, é urgente que as cidades se preparem para lidar com as fortes chuvas e outros eventos extremos que serão potencializados pelas mudanças do clima. A fim de evitar perdas de vidas humanas, danos à infraestrutura e prejuízos financeiros, são necessários investimentos em pesquisa, redes de monitoramento do clima e sistemas de alertas e prevenção de desastres. Um Plano de Adaptação à Mudança do Clima é fundamental.

Elevação da temperatura: um assunto em pauta desde o século XIX

Apesar de nos últimos anos os efeitos das mudanças do clima estarem se tornando cada vez mais evidentes, a discussão quanto à tendência de elevação da temperatura média global já existia no século XIX.

O primeiro cientista a relacionar o aquecimento da atmosfera à emissão de gases de efeito estufa foi o francês Jean Baptiste Fourier, em 1827. No Brasil, o tema repercutiu em 1957, quando o físico Joseph Kaplan, da Universidade da Califórnia, publicou um artigo em um jornal norte-americano, que foi notícia na Folha da Noite, atual Folha de São Paulo.

Naquela época, o pesquisador relacionou a queima de combustíveis fósseis ao aquecimento da atmosfera, além de alertar para o derretimento das calotas polares e elevação do nível dos mares em um prazo de 50 a 60 anos, ou seja, os dias de hoje. Certo é que fizemos muito pouco para nos prepararmos aos impactos da mudança do clima, mesmo já tendo informações como essas há décadas!

Análise de vulnerabilidade climática: uma ferramenta de controle e prevenção de riscos

O futuro, que parecia tão distante, já está mais próximo do que nunca. Os recentes temporais nas principais cidades do Brasil como os vivenciados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília são mais uma evidência de que a mudança do clima já está acontecendo. Por isso, planejar medidas de adaptação à mudança climática é urgente, o que já vem sendo feito por algumas capitais brasileiras.

Em estudo de vulnerabilidade climática feito pela WayCarbon para o município de Belo Horizonte, foi identificado que 42% dos bairros da capital mineira já se encontram em situação de fragilidade frente aos fatores do clima, principalmente chuvas e calor. Se políticas públicas não forem imediatamente criadas para reverter essa situação, a vulnerabilidade da cidade a chuvas torrenciais, deslizamentos, alagamentos, calor extremo e até mesmo dengue pode aumentar significativamente até 2030.

Além de Belo Horizonte, a WayCarbon está desenvolvendo o estudo de vulnerabilidade climática da cidade do Recife e apoiará estudos similares nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Salvador pelo Programa Climate Action Planning (CAP) da organização C40. Foi entregue também um estudo similar para as infraestruturas críticas do Brasil ao Governo Federal.

Tais estudos são de grande relevância para o planejamento estratégico das cidades para os próximos anos, principalmente quando fazem parte de um Plano de Adaptação, pois as ações possíveis de adaptação são detalhadas. Elas podem vir de diversas formas, como: melhorias na drenagem urbana, melhor planejamento do uso e ocupação do solo e gerenciamento de resíduos sólidos, além do desenvolvimento de sistemas de alerta a eventos extremos e até mesmo investimentos em educação e saúde.

MOVE: uma poderosa ferramenta para análise de vulnerabilidade e adaptação

A WayCarbon desenvolveu o MOVEModel for Vulnerability Evaluation, plataforma digital integrada de avaliação da vulnerabilidade e riscos associados à mudança do clima.. O modelo é capaz de produzir mapas georreferenciados e estatísticas de base, os quais apontam os principais fatores de vulnerabilidade a que uma área estará submetida em decorrência dos eventos climáticos.

A análise de vulnerabilidade avalia o grau de suscetibilidade e a capacidade de um sistema de lidar com situações adversas relacionadas à mudança do clima. De posse dessas informações, os governantes têm uma melhor base para realizar o planejamento territorial. Assim, pode-se identificar o quão frágil uma região estará e quais as medidas de adaptação deverão ser adotadas.

O MOVE pode ser aplicado não só no setor público, mas também no privado. Muitas empresas já estão atentas à necessidade de incluir medidas de mitigação e adaptação à mudança do clima em seu planejamento estratégico, de forma a se prepararem para um cenário diferente do atual.

Como vimos, os efeitos da mudança do clima já podem ser identificados no Brasil e se tornarão mais frequentes nos próximos anos. A fim de reduzir suas consequências, é preciso tornar as medidas de adaptação uma prioridade nos setores público e privado desde já. Nesse cenário, a análise de vulnerabilidade climática tem o importante papel de fornecer informações relevantes para a tomada de decisão e garantir maior segurança à população.

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