Como os ODS vêm sendo incorporados pelas empresas?
Desde o ano 2015, cada vez mais governos e empresas de todo o mundo vêm caminhando em uma direção comum: os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Diante da urgência da questão climática, cresce a demanda da sociedade por uma atuação socioambiental responsável por parte dos tomadores de decisão e do setor privado.
No último ano, o Fórum Econômico Mundial apontou que um total de 2,5 trilhões de dólares em investimentos seria necessário para que os 17 ODS fossem alcançados até 2030. Apesar de os 193 países membros da ONU terem assumido o compromisso de alinhar o seu desenvolvimento aos ODS, fica evidente que tal valor não pode ser unicamente assumido pelos governos, o que desperta a importância da atuação do setor privado no processo de transição para economias baseadas nos princípios do desenvolvimento sustentável.
Neste artigo, você vai entender como o universo corporativo vem incorporando os ODS aos seus negócios, além de conhecer as vantagens econômicas associadas a essa tendência. Para isso, trouxemos o caso de 3 empresas que já envolveram os ODS em sua operação. Vamos lá?
O que são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável?
Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável foram definidos em 2015, pela ONU, na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Eles compõem a Agenda 2030, que engloba 169 metas a serem cumpridas pelos países membros entre o período de 2015 a 2030.
Esses objetivos são divididos em cinco áreas: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parceria. Saiba mais sobre eles em nosso artigo: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: no centro dos negócios.
Devido à sua capacidade de gerar mudanças na sociedade, principalmente sob um viés econômico, as empresas são peça-chave na transformação dos ODS em práticas que impulsionem o desenvolvimento dos países, de forma a equilibrar a capacidade de suporte do planeta e o bem-estar social das populações.
Como as empresas estão contribuindo individualmente para os ODS?
Várias empresas já estão atuando na aplicação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e muitas delas, inclusive, vêm se tornando signatárias do Pacto Global (UN Global Compact). Essa é uma iniciativa que fornece diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras.
Ao se juntar ao Pacto Global, a empresa assume o compromisso de alinhar a sua estratégia de desenvolvimento aos ODS mais relevantes para as suas atividades.
A Rede Brasil do Pacto Global já é a terceira maior do mundo. Cada vez mais organizações vêm se juntando à rede, que em 2015 contava com menos de 500 signatários e hoje já possui quase 800 membros – os números que demonstram um crescimento de 70% nos últimos anos.
A atuação das empresas na implementação da Agenda 2030 se dá na forma de metas e ações em consonância com os Objetivos da ONU, de forma a reduzir os impactos ambientais de seus produtos e promover a justiça social. Os princípios e as metas estabelecidas pelos ODS também já são incorporados à Política Ambiental de muitas empresas, constituindo um norteador de sua atuação na sociedade.
Vejamos, a seguir, três exemplos de empresas que já estão colocando em prática o seu compromisso com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
MRV
A MRV, maior empresa construtora do Brasil, é signatária do Pacto Global desde 2016 e desenvolve ações atreladas a 15 dos 17 ODS. Dentre elas estão: o monitoramento rigoroso da cadeia de fornecedores, de forma a evitar fragilidades em termos de direitos humanos; a revitalização do entorno dos empreendimentos, de forma a prover um ambiente saudável e inclusivo para a comunidade; a redução do consumo e reuso de água nas operações e a instalação de painéis de energia fotovoltaica nos prédios construídos.
Ressalta-se que mesmo antes de ser signatária do Pacto Global, já existiam na MRV metas e atividades relacionadas à redução do impacto socioambiental e maximização do valor agregado ao produto final. Desde o ano de 2015, por exemplo, a MRV desenvolve ações que vão ao encontro do Objetivo nº13, que trata de medidas que combatem a mudança do clima e seus efeitos. A MRV calcula e publica o inventário de gases de efeito estufa de suas operações (fontes diretas e indiretas), bem como compensa seu impacto por meio de aquisição de créditos de carbono no âmbito do Programa Amigo do Clima. Esse Programa é gerido pela WayCarbon e tem como objetivo agregar valor às empresas participantes, facilitando suas ações de responsabilidade climática com transparência e qualidade.
Com a adoção dos ODS, a MRV formalizou o seu compromisso com o desenvolvimento sustentável a nível global. Inclusive, a empresa reporta anualmente à ONU o desempenho de suas ações relacionadas à aplicação dos ODS.
Unilever
A empresa desenvolveu seu Plano de Sustentabilidade com base em metas que também estão atreladas aos ODS.
Com a adoção dos princípios do desenvolvimento sustentável à sua estratégia, a Unilever vem criando as “marcas para uma vida sustentável”, que têm o propósito de impacto positivo na sociedade. Além disso, cada uma delas contribui para pelo menos um dos ODS.
Tais marcas tiveram um crescimento 50% superior em relação as demais em 2016 – o que confirma a receptividade do mercado consumidor para produtos gerados conforme as diretrizes da Agenda 2030.
Natura
Como disse o CEO da Natura, João Paulo Ferreira, no SDG Investment Forum, “Sustentabilidade não é um custo adicional, não é um pedágio, é um investimento para melhores negócios”.
Por meio do Programa Amazônia, a Natura realiza uma exploração dos recursos naturais intrinsecamente ligada aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Ao estabelecer parcerias com as comunidades locais, a empresa prioriza sistemas de produção que reduzam os impactos no ecossistema, favoreçam o desenvolvimento e a saúde da população, além da igualdade de gênero.
As oportunidades trazidas pelos ODS
Segundo Felipe Bittencourt, sócio-diretor da WayCarbon, algumas das principais oportunidades trazidas pelos ODS são:
(a) atração de investidores e facilidade de crédito:
Grandes fundos de investimentos e provedores de crédito se preocupam cada vez mais com a sustentabilidade das empresas investidas, de modo a mitigar potenciais riscos e garantir melhores retornos no longo prazo. Assim, os grandes players do setor financeiro vêm adotando o nível de engajamento dos negócios com os ODS como critério para destinação de novos investimentos e liberação de crédito. Organizações como Black Rock e Pimco, por exemplo, estão muito envolvidas nessa temática. Ressalta-se ainda que a Business & Sustainable Development Commission (BSDC) estima que será necessário um financiamento anual de 2,4 trilhões de dólares, pelos setores público e privado, para que os objetivos da Agenda 2030 sejam cumpridos.
(b) acesso a novos mercados:
Ao firmarem o compromisso de incluir os ODS à sua estratégia, as empresas abrem caminho para a atuação em novos mercados. Com isso, as organizações também podem atender aos anseios de clientes por produtos e serviços alinhados aos princípios da sustentabilidade. Segundo o relatório Better Business, Better World (BSDC), os negócios sustentáveis têm o potencial de gerar oportunidades econômicas de aproximadamente 12 trilhões de dólares e até 380 milhões de empregos por ano até 2030. O relatório destaca, inclusive, que novos mercados surgirão principalmente em quatro áreas: energia, cidades, agricultura e saúde e bem-estar.
c) melhor comunicação dos impactos positivos da organização aos stakeholders:
Muitos dos stakeholders associam uma empresa aos impactos negativos gerados por ela. Tal fato gera questionamentos que influenciam na imagem e valorização da empresa. O bom e assertivo uso dos ODS permite que uma empresa comunique suas ações e impactos positivos de maneira estruturada, alinhada com seus temas materiais e contextualizada com as demandas globais.
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