Projeto realizado por WayCarbon, ICLEI e CETESB avaliou os impactos das mudanças do clima nos municípios que fazem parte da Baixada Santista e incentivou ações de prevenção.
A publicação do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em agosto de 2021, mostrou que as mudanças do clima já estão trazendo consequências para o planeta, como ondas de calor, inundações e elevação do nível médio do mar. Para combater tais avanços, é importante que atores públicos, privados e sociedade civil unam esforços e construam alternativas de adaptação e prevenção.
Nesse contexto, a WayCarbon, Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI) e Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), realizaram a Capacitação em Adaptação às Mudanças do Clima sobre os Recursos Hídricos para Cidades da Baixada Santista, englobando: Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Santos, São Vicente, Peruíbe e Praia Grande.
Capacitação e identificação de vulnerabilidades
Segundo Maria Fernanda Garcia, Gerente da Divisão de Mudanças Climáticas e Acordos Multilaterais na CETESB, o objetivo do projeto é assegurar que os servidores adquiram conhecimentos sobre o tema para que possam atuar na identificação de vulnerabilidades, proposição de medidas de prevenção de riscos relacionados à recursos hídricos e no acesso a recursos financeiros.
O trabalho, que começou em 2019, passou por várias adaptações devido à pandemia e foi encerrado com um seminário online no dia 28 de setembro de 2021. Foram mais de 160 pessoas envolvidas, de nove municípios, entre membros da sociedade civil e servidores das esferas municipal e estadual: 53% do público foi formado por homens e 47% por mulheres.
Segundo Filipe Bittencourt, CEO da WayCarbon, a mudança do clima é fortemente induzida afetada por ações antrópicas e os impactos já são visíveis: “o treinamento é essencial porque foca em entender o problema, fomentar ideias e projetos que vão continuar no passar dos anos, para que possamos agir e evitar perdas humanas e financeiras”, avalia.
A palestra de abertura do seminário final foi ministrada pelo Professor Dr. José Marengo, Coordenador-Geral de Pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres (CEMADEN) – unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Marengo é peruano, radicado no Brasil há mais de 20 anos e um dos cientistas mais influentes do mundo segundo a Reuters.
Em sua fala, abordou as projeções do último relatório do IPCC, painel do qual faz parte, e os impactos na Baixada Santista. “As zonas costeiras são ambientes naturalmente frágeis e que sofrem intensos processos de urbanização, resultando em diversos impactos socioambientais que podem ser intensificadas frente aos efeitos adversos das mudanças do clima”, explicou.
Para o professor, os municípios não conseguem lidar com esses impactos sozinhos, sendo necessárias ações articuladas na esfera regional. Em concordância com Marengo, Melina Amoni, Gerente de Risco Climático e Adaptações da WayCarbon, destacou a preocupação dos realizadores do treinamento em reunir todas as cidades da Baixada para pensar em ações que fossem regionais e funcionassem de forma conjunta.
Soluções para adaptação e redução dos riscos
Usando como exemplo o case da prefeitura de Santos, pioneira ao lançar o Plano Municipal de Adaptação à Mudança do Clima de Santos (PMMCS) em 2016, o professor reforçou que a percepção dos riscos associados às mudanças do clima é mais bem assimilada quando coproduzida com embasamento científico e forte participação das comunidades locais na tomada de decisões.
Inundações causadas por chuvas intensas ou pela elevação do nível do mar são problemas constantes para cidades litorâneas. Para endereçar tais questões, Marengo afirmou que o alargamento da faixa de areia pode ser eficiente, já tendo sido implementada em Miami e no Balneário Camboriú, por exemplo. Por outro lado, ponderou que é preciso considerar se em casos de aumento da ocorrência de tempestades a medida seria suficiente. Além disso, apontou que a solução pode ser ainda mais complexa, afinal, a mudança pode afetar a fauna local e o escoamento do mar nas outras extremidades – de acordo com princípios geofísicos.
Após a palestra, Natalia D’Alessandro, consultora em Sustentabilidade na WayCarbon, apresentou os principais resultados da capacitação, que contou com a construção de projetos de adaptação pelos participantes, que foram apresentados ao final do evento para uma banca de especialistas.
Dentre os temas levantados nas medidas de adaptação, estão:
- Melhor manutenção dos sistemas de drenagem urbana:
- Revisão, atualização e efetividade dos planos de micro e macrodrenagem;
- Limpeza periódica e desassoreamento de córregos e canais;
- “Renaturalização” de rios e córregos.
2. Gestão de risco climático
- Monitoramento, impedimento e remoção de ocupações e loteamentos e áreas vulneráveis a riscos;
- Melhorias nos sistemas de alerta;
- Fortalecimento da linha litorânea.
3. Preservação, manutenção e implantação de cobertura vegetal
- Manutenção e preservação da vegetação de praias, dunas e mangues;
- Monitoramento e fiscalização de áreas de preservação e amortecimento de marés;
- Arborização urbana e telhados verdes.
Integrante da banca de avaliação, André Aquino, Especialista Sênior em Gestão de Recursos Naturais do Banco Mundial, falou da importância de as cidades fazerem a análise geoespacial dos locais antes de aplicar as medidas, já que isso interfere nos custos. “Seria interessante pensar se o setor privado poderia contribuir com o financiamento. Temos o exemplo de Senegal, onde houve parcerias entre o setor privado e os municípios na recuperação da costa, principalmente do setor de turismo e hotelaria, que são impactados de maneira direta pelas mudanças no ambiente”, concluiu.