Entenda as consequências das mudanças climáticas para a economia
Boa parte do Brasil enfrentou uma relevante crise hídrica e energética em 2015. Vários estados cogitaram implementar políticas de racionamento hídrico e de adicional tarifário por consumo excessivo de água e energia. Comumente entendidas como impactos relevantes em nossas vidas, principalmente devido à experiência cotidiana de falta de água na torneira ou no chuveiro, as alterações dos regimes pluviométricos afetam diretamente setores relevantes da economia nacional, como o setor industrial e a agricultura, amplificando as consequências das mudanças climáticas.
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Destaca-se, ainda, que a crise imposta ocorre apenas parcialmente pelo regime de chuvas. A má gestão dos recursos hídricos, o descaso com a preservação de áreas de proteção ambiental e nascentes e o uso ineficiente da água contribuem tão significativamente para um cenário de escassez quanto a falta de chuva. Portanto, o uso racional dos recursos naturais é fundamental para o nosso futuro.
Agir no curto prazo, por meio de ações emergenciais como o racionamento e a taxação do consumo excessivo, é fundamental em cenários críticos. Entretanto, ações estruturantes de redução do desperdício e das perdas, ampliação das redes de coleta e tratamento de esgotos e a introdução sistemática de tecnologias de reuso de água devem ser levadas a sério pelo poder público e pelo setor privado. É essencial compreender que as alterações climáticas continuarão gerando impactos no médio e longo prazo e que precisamos nos preparar para enfrentá-los.
O aumento da temperatura, a mudança no regime de chuvas e a elevação do nível do mar são alguns dos impactos físicos mais conhecidos das mudanças climáticas. Entretanto, outras consequências diretas e indiretas podem afetar negócios e a sociedade. Quer saber mais? Continue acompanhando o nosso artigo!
A água como insumo produtivo
Se o problema da água se materializa na torneira seca das casas, ele também impacta setores importantes da economia, como a agricultura. O risco para a segurança alimentar é real e os modelos climáticos apontam para as perdas de safras e a realocação de produções. No Brasil, por exemplo, apenas a cultura da cana-de-açúcar não será afetada pelas mudanças do clima, segundo dados da EMBRAPA. As culturas mais sensíveis, como a soja e o café, serão impactadas por uma menor área susceptível à produção, com a consequente alta de preços e a potencial contribuição para o aumento do custo de vida no país.
Tal cenário implica em maior risco para os produtores destas culturas. A incerteza num quadro de mudanças climáticas pode ser mitigada por maiores investimentos em tecnologias de ponta e em sistemas eficientes de irrigação, garantindo a produtividade. Entretanto, tal cenário implica também em maior risco de crédito, com consequente aumento do prêmio de financiamentos dessa natureza. Sob a ótica do sistema financeiro, investir ou financiar regiões e atividades nas quais há maior risco de perda de produção significa assumir uma maior probabilidade de não pagamento. O aumento do risco implica em aumento de custo das linhas de crédito.
O aumento do custo dos financiamentos, e a consequente insuficiência de crédito aos produtores rurais, poderá seguir na contra-mão da demanda adicional por investimentos para lidar com as alterações climáticas, ampliando o efeito negativo para as safras futuras. Além disso, alimentos caros pressionam positivamente a inflação, o que pode implicar em políticas monetárias mais rígidas por parte do governo, como o aumento dos juros básicos. Tal cenário tende a favorecer a queda do consumo e o inicio de um ciclo de redução da atividade econômica nacional.
A energia como insumo produtivo
O setor elétrico também sofre com a falta de água. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicado na revista Desafios do Desenvolvimento, demonstra que a energia hidrelétrica manterá sua preponderância na matriz nacional, com níveis próximos a 74% da geração até 2030 — atualmente sua participação é de 75% — índices altos para o padrão mundial.
Assim, a dependência da água para geração de energia aumenta a vulnerabilidade do setor elétrico em um cenário de mudanças climáticas. Estes impactos foram avaliados no relatório do CBDES demonstrando a exposição do setor às alterações climáticas projetadas para 2050. Energia escassa implica em elevação das tarifas, como já vem sendo observado, afetando principalmente a indústria, que é grande consumidora. É verdade que valores mais altos de energia geram incentivos para investimentos em eficiência energética e em fontes alternativas de geração, reduzindo a dependência do consumidor pela eletricidade proveniente da rede elétrica. Por outro lado, tais investimentos demandam planejamento e disponibilidade de recursos, o que pode não acontecer no curto prazo. Consequentemente, o setor privado, em especial a indústria, deve se preparar para conviver com maiores custos de energia e maior risco de indisponibilidade de eletricidade.
Consequências das Mudanças Climáticas: impactos na economia
Os impactos das mudanças climáticas não se restringem, portanto, apenas aos recursos naturais e a sua torneira. Economia e sociedade serão profundamente afetadas. O crescimento do país poderá ser prejudicado, ao passo que a demanda por investimentos em adaptação e aumento da resiliência climática tendem a se expandir. Portanto, a desaceleração do crescimento econômico alinhado às incertezas climáticas contribuem para um cenário econômico de indefinições.
A solução para esse conundrum passa por procurar soluções para um crescimento sustentável, pautado no uso racional dos recursos naturais. O controle da emissão dos gases de efeito estufa, a produção consciente e durável e a aplicação de tecnologias que utilizem a melhor forma de gerar e consumir energia são itens que devem ser, obrigatoriamente, perseguidos. Devemos, ainda, preparar-nos para conviver em um mundo diferente daquele que conhecemos. As alterações climáticas são reais e seus impactos serão observados com maior frequência.
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Henrique Pereira
Henrique é graduado em Relações Internacionais, Pós Graduado em Tecnologias Ambientais e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Co-fundador e CEO da WayCarbon, é um eterno otimista e acredita que as pessoas possuem todo o potencial de transformação e mudança que o mundo precisa. Vive o desafio de empreender e de compartilhar os valores da sustentabilidade. Mora na cidade, mas gosta mesmo é da roça: de comida no fogão a lenha, das cavalgadas pelo Rio Indaiá e dos casos que parecem mentira.