Entrevista Mitre Realty: construção civil e sustentabilidade
O setor de construção civil é um dos mais representativos na economia brasileira. A indústria como um todo tem participação de 20,5% no PIB do país e dentre seus segmentos, a construção é a terceira com maior participação (7%), ficando atrás apenas de eletricidade e gás (9%) e da indústria de alimentos (8%). Os dados são de 2019, publicados pelo Portal da Indústria.
Por ser uma indústria altamente empregadora e consumidora de inúmeros tipos de materiais tem diversos desafios socioambientais, como: geração de empregos, segurança do trabalho, emissões de gases de efeito estufa, consumo de recursos naturais, relacionamento com fornecedores, entre outros.
Em tal cenário, o setor já compreendeu que o tema é essencial para sociedade e para o mercado e busca iniciativas para se adequar à agenda ESG (Social, Meio Ambiente e Governança, da sigla em inglês). Um exemplo é a Mitre Realty, incorporadora e construtora que há mais de 50 anos desenvolve empreendimentos de médio e alto padrão em São Paulo.
No ano seguinte à abertura de capital na B3, em 2020, a empresa procurou a WayCarbon para realizar um projeto para auxiliar no estabelecimento de estratégia ESG e adotou o Climas, software líder em gestão ESG no mercado. O objetivo era consolidar e dar clareza em como as diferentes iniciativas relacionadas a agenda ESG permeiam cada área da operação da empresa, reforçando os pontos positivos já existentes e estruturando novas ações nas áreas em que fossem necessárias.
O trabalho envolveu principalmente a elaboração de um diagnóstico inicial de todas as iniciativas da empresa, o estudo da materialidade e a produção do inventário de emissões de GEE. Essa estruturação foi o ponto de partida para que a empresa também pudesse posicionar-se com segurança frente às demandas de stakeholders externos. Atualmente,a empresa está preparando a divulgação de seu primeiro relatório de sustentabilidade.
Para conversar um pouco mais sobre essa experiência, entrevistamos Eduardo Galeskas, Gerente ESG da Mitre Realty.
1. A Mitre é uma incorporadora e construtora que há mais de 50 anos desenvolve empreendimentos de médio e alto padrão. Qual é o panorama atual do setor em termos de mudança do clima? De que forma a Mitre quer estar posicionada nesse mercado nos próximos anos?
R: Sabemos que o setor de construção civil possui impactos climáticos, mesmo que indiretos, mas sabemos, também, que podemos fazer muita coisa para minimizar esses impactos negativos e até gerar impactos positivos. A construção depende de diversos insumos que podem ser diretamente afetados pelos efeitos das mudanças do clima e, nesse sentido, buscamos sempre melhorar o nível de sustentabilidade dos nossos empreendimentos e de suas cadeias de valor, de forma que consumam menos recursos, usem materiais mais sustentáveis e gerem menos impactos. Trabalhamos junto aos nossos fornecedores e parceiros, para buscar soluções e alternativas que minimizem o risco desses insumos mais críticos. Essas são algumas das ações para atingir nosso objetivo de nos tornar referência em sustentabilidade na construção civil.
2. Qual era o desafio da Mitre no tema ESG ao buscar a WayCarbon?
R: Como já realizávamos algumas ações, porém de forma desestruturada, nosso desafio inicial era entender em qual estágio estávamos nos três pilares (ESG) e iniciar a estruturação do processo de gestão. Que fizemos por meio do estudo de materialidade, da implementação do Climas e da criação da área de ESG internamente.
3. Como o trabalho com a WayCarbon está trazendo reflexões para a empresa no ponto de vista estratégico?
R: O trabalho trouxe um olhar externo e transversal, de forma a enxergarmos os pontos em que já possuíamos ações, mas ainda assim com oportunidades de melhoria, mas também para aqueles pontos em que precisávamos estruturar desde a base. E tudo isso de uma forma estruturada e com pensamento integrado sobre ESG e insumos para construção de estratégia de longo prazo.
4. De que forma o trabalho com o Climas tem mudado a forma com que a Mitre trabalha com indicadores de monitoramento ESG?
R: A ferramenta vem ajudando na visão centralizada dos indicadores, compilando os dados de forma ágil e em tempo real, possibilitando a análise crítica e a elaboração de planos de ação para corrigir qualquer desvio em tempo. Além de favorecer a rastreabilidade do processo como um todo.
5. Quais foram as principais dores no momento de trazer a cultura ESG para a rotina da empresa? Como está o engajamento dos colaboradores em relação à pauta?
R: O desafio de trazer a cultura ESG é o mesmo de trazer qualquer cultura nova, antes de tudo, os principais gestores precisam estar engajados e comprometidos com essa nova iniciativa. E esse quesito nós já atendemos.
Em seguida, há um período de entendimento, em que os colaboradores precisam entender melhor sobre o tema, quais implicações terá no dia a dia de cada um e, também, quais os benefícios trará para a companhia. Ainda temos um caminho a percorrer, estamos realizando comunicações internas, desenvolvendo treinamentos e algumas outras ações, mas até o momento o engajamento dos colaboradores está muito bom.
6. Qual é a principal expectativa da Mitre com os próximos passos do projeto?
R: A principal expectativa para a continuação do projeto é poder compartilhar com nossos stakeholders nosso Relatório de Sustentabilidade, para os informar sobre o que estamos fazendo até aqui e quais são nossos objetivos de curto, médio e longo prazo, para que possamos trabalhar em conjunto com eles para criar um ambiente mais sustentável em toda a cadeia de valor de nossos produtos e gerar valor compartilhado.