Banco da Amazônia e a pecuária verde
A (GIZ) GmbH, que implementa no mundo inteiro projetos da cooperação internacional da Alemanha, encomendou um estudo de viabilidade de um Produto Financeiro Verde em parceria com o BASA.
A pecuária é um dos segmentos em constante escrutínio público e de mercado por suas significativas taxas de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Nesse cenário, surge a pressão por uma pecuária verde: como forma de o setor continuar atendendo a uma alta demanda nacional e internacional, mas de forma mais sustentável em termos ambientais e econômicos.
Como aplicar a pecuária verde à realidade brasileira?
Contudo, para que ela seja aplicada à realidade brasileira, existem alguns desafios como: o acesso ao financiamento, a capacitação técnica dos pecuaristas e o desmatamento. Uma relevante iniciativa nesse sentido é o Projeto Finanças Brasileiras Sustentáveis (FiBraS), implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ GmbH), com recursos do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
Um dos projetos financiados pelo FiBraS é um Produto Financeiro Verde (PFV) realizado em parceria com o Banco da Amazônia (BASA). Trata-se de uma linha de crédito para apoiar atividades da pecuária adequadas aos aspectos ambientais, principalmente na região amazônica, em combinação com programas de capacitação profissional e a aplicação de um sistema de monitoramento, relato e verificação (MRV). Para Augusto Barros, Técnico do BASA e Coordenador do Projeto, “é um passo essencial no caminho da transformação do crédito em mola propulsora da sustentabilidade na Amazônia”.
Cooperação Brasil-Alemanha
Matthias Knoch, consultor líder do Projeto explica: “A Cooperação Brasil-Alemanha trabalha nos eixos principais de energias renováveis e eficiência energética e na proteção e uso sustentável das florestas tropicais. O projeto FiBraS visa melhorar as condições do mercado financeiro verde no Brasil para facilitar a mobilização de investimentos para atividades sustentáveis e assim contribuir para a mitigação dos efeitos da mudança do clima”.
Para ampliar a discussão sobre pecuária verde e PFVs, conversamos com Eduardo Assad, Engenheiro Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, que foi consultor técnico do projeto.
1.A pecuária é uma das principais atividades econômicas do Brasil, mas também está associada a externalidades negativas, como a degradação do solo, perda de vegetação nativa e emissão de gases de efeito estufa. A pecuária Brasileira emite em até 19% do total de GEE do País segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Nesse sentido, o que significa o conceito de pecuária verde?
Para reduzir ou mitigar os efeitos dessas emissões a pecuária verde é uma das principais soluções que podem e devem ser utilizadas. A pecuária bovina brasileira precisa ser pressionada a adotar padrões mais modernos de desempenho socioambiental, sanitário e econômico. A intensificação produtiva é uma das saídas econômicas.
Buscando equilibrar as ações econômicas com outros pilares da sustentabilidade, a pecuária verde visa melhorar o desempenho das fazendas considerando quatro aspectos: i) aumentar a rentabilidade das fazendas por meio do aumento da produtividade, ii) melhorar o bem-estar dos animais, que afeta a produtividade, e a segurança e bem-estar dos empregados, iii) melhorar o desempenho ambiental, planejando o uso do solo com base no potencial agropecuário e realizando a restauração de áreas desmatadas ilegalmente ou que não têm aptidão agropecuária e iv) capacitar e valorizar os trabalhadores.
2.E quais são os principais desafios para implementá-la no Brasil?
Entendimento de que a proposta é agroambiental; adotar as técnicas de produção integradas; migrar da pecuária extensiva para uma pecuária intensiva e inclusiva e principalmente evitar o desmatamento. No meu entendimento, enquanto existir desmatamento não haverá pecuária verde.
3. O que é um Produto Financeiro Verde (PFV)?
São produtos que estão adequados ao equilíbrio ambiental, social, econômico e territorial. Tem na sua origem a meta de atingir emissão zero ou emissões baixas, gerar emprego, e buscar a justiça social e climática. Não se trata de ser somente um produto com ganhos financeiros, mas também apresentar ganhos sociais, com desenvolvimento local.
4. Como os objetivos desse produto financeiro se relacionam com os compromissos assumidos pelo Brasil na COP26?
Têm aderência direta com os dois acordos que o Brasil assinou, ou seja, redução do desmatamento e, principalmente: a redução das emissões do metano em 30% e dos Gases de efeito estufa em até 50%
5. Uma das etapas do projeto foi a classificação tecnológica dos produtores. Qual a relevância dessa etapa e quais foram os principais desafios encontrados?
Não se implementa um projeto sem conhecer o cliente. O maior desafio dos projetos de financiamento verde no Brasil é de deixarem de ter caráter “top down” e se transformarem em atividade “bottom up”. A primeira delas é classificar os produtores para depois avaliar as estratégias de aumento de escala. O principal desafio é de encontra os indicadores corretos para categorizar os produtores. Não é uma tarefa trivial.
6. Um dos instrumentos usados no trabalho foi a plataforma TERRAS, que permite a apresentação e análise de propostas de crédito rural a serem submetidas aos bancos. Qual é o papel da tecnologia na verificação do financiamento de atividades sustentáveis?
O avanço tecnológico, principalmente do cruzamento de informações tem sido um importante aliado na avaliação das propostas de financiamento verde no Brasil. Uma vez implementados, o maior esforço seria então de implantar o MRV (monitorar, relatar e validar), para verificar a efetividade dos financiamentos. Muito investimento e inteligência devem ser alocados nessa ação. O desenvolvimento tecnológico vem após o dimensionamento correto do produto que se pretende avaliar e acompanhar.
Referências Bibliográficas
¹POCCARD-CHAPUIS R. et al. Pecuária Verde na Amazônia? Viabilidade técnica, socioeconômica e ambiental de Produto Financeiro Verde para pecuária bovina na Amazônia. Cirad, Brasil, 2021.